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Expande Capão deixa legado de ensinamentos e debates

Redação • 27/11/2025 - 16:54


		Expande Capão deixa legado de ensinamentos e debates
Imagem: Divulgação

O Vale do Capão se despediu, no último sábado, 22, de uma primeira edição histórica do Expande Capão. Com programação gratuita, o evento reuniu especialistas, terapeutas e representantes indígenas para debater temas como território e pertencimento, práticas seguras com enteógenos, medicina tradicional, cannabis e políticas de regulação.

Cerca de 1.000 pessoas circularam pelo Coreto da Vila ao longo dos três dias, garantindo participação ativa tanto da comunidade local quanto de turistas. A proposta do encontro foi criar um ambiente acessível para discutir ciência, espiritualidade e ancestralidade a partir de diferentes perspectivas. Ao todo, 18 convidados participaram das mesas temáticas.

Mais do que um fórum, o Expande Capão nasceu como um movimento de reconexão, se firmando como um espaço para integrar saberes tradicionais e produção científica contemporânea. O sucesso do formato já garante o futuro do encontro: a organização confirma a segunda edição em 2026.

Representante da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência no Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas e um dos curadores do evento, Diogo Busse destacou que a primeira edição do evento foi um grande sucesso e trouxe reconexão com as raízes de cada um.

“O meu sentimento nesse momento é de pura e plena realização, porque o nosso objetivo foi alcançado. É gerar uma reflexão, mas também uma experiência, uma vivência de reconexão. Não se trata de uma busca, daquilo que nos fizeram a gente acreditar, o tempo todo tendo que buscar algo, entregar algo, produzir algo. Talvez seja uma lembrança e eu acho que isso foi alcançado aqui, vivenciaram uma verdadeira experiência de reconexão com as nossas raízes, com quem nós somos, na essência. A unidade, aquela essência que nos une”, ressaltou Diogo.

A potência do encontro

A resposta do público foi um dos destaques do evento. Moradores do Vale do Capão, pesquisadores, jovens, famílias e turistas acompanharam toda a programação.

“Para mim foi incrível ver a grandiosidade dos profissionais que estão aqui oferecendo esse conhecimento de forma gratuita no Coreto. Esse último dia, especialmente o tema sobre famílias psicodélicas, me pegou muito porque esse olhar integrativo pra comunidade, pras famílias, é algo que precisa ser um pouco mais visto. Tudo me emocionou bastante porque é bem atual e é bem urgente, e ao mesmo tempo elucida, traz muita consciência”, disse Bianca Lutti, de 31 anos, moradora do Vale do Capão.

O evento também atraiu turistas de várias regiões. A baiana Ana Costa saiu de Barra dos Mendes com quatro amigos para acompanhar a programação no Coreto.

“Foi um evento de só aprendizado. Trocar experiências, perceber como o mundo dos psicodélicos está abrindo nova consciência na sociedade e isso é um estudo maravilhoso que enche o nosso coração de amor e de paz. É só gratidão por estar aqui, é só gratidão por tanta informação, é só gratidão por essas mesas incríveis que vieram discutir, assuntos que vão agregar ao nosso crescimento”, disse Ana.

Vale do Capão como território de consciência

Para Marco Algorta, pioneiro no desenvolvimento da indústria canábica na América Latina e um dos curadores do fórum, o evento demonstrou o interesse da comunidade em dialogar sobre ciência, ancestralidade e cuidado, superando as expectativas iniciais.

“Uma coisa que é muito melhor do que qualquer um de nós planificou, uma coisa que superou amplamente qualquer ideia pré-concebida nossa. O primeiro dia foi incrível, a fala do movimento indígena foi muito forte, muito batalhadora, o segundo dia foi falando sobre Cannabis Medicinal, vendo como todas as pessoas da comunidade estavam muito atentas ao assunto, depois veio as falas da ciência com o movimento indígena. A forma como a comunidade do Capão recebeu isso, respondeu, superou amplamente o meu maior desejo. Foi um portal de comunicação, um portal de democracia, um portal de conversa, um portal da comunidade, abraçando um projeto, foi maravilhoso”, pontuou Algorta.

A programação do Expande Capão aconteceu de forma paralela ao tradicional Capão in Blues, que movimentou o feriado da Consciência Negra no Vale. Os debates e mesas aconteceram no turno da tarde, enquanto os shows do festival ocupavam a noite, criando uma experiência inédita que combina conhecimento, arte e celebração.

O repertório das palestras

No primeiro dia do evento, o fórum contou com a participação de Dra. Cecília Nizarala, a multiartista e pesquisadora das medicinas da floresta Cris Nishimori; o jovem nativo do Capão e líder bantu Ayrã Nery; e o terapeuta e dirigente espiritual Jarbas Rodrigues Júnior, que abriram o encontro discutindo território, pertencimento e práticas seguras com enteógenos.

A programação também reuniu nomes de referência no diálogo entre ancestralidade e ciência, como Daiara Tukano, artista e cofundadora da Conferência Indígena da Ayahuasca; Dra. Adana Omágua Kambeba, primeira médica do seu povo; Glauber Loures de Assis, fundador da igreja do Santo Daime Céu da Divina Estrela e Jairo Lima, indigenista e conselheiro sênior do Instituto Yorenka Tasorentsi, vozes centrais no debate sobre biocultura, reconhecimento e equidade.

No segundo dia, compondo o eixo comunicação e ciência, participaram Tábata Gerk, especialista em terapia e integração psicodélicas; Iago Lôbo, psicólogo e fundador do observatório Micélio de Notícias; e a jornalista Caroline Apple, que discutiram como ampliar o diálogo social sobre psicodélicos.

Em seguida, a Dra. Mariane Ventura, médica prescritora canábica, e Leandro Stelitano, fundador e presidente da Associação para Pesquisa e Desenvolvimento da Cannabis Medicinal (CANNAB), aprofundaram os caminhos para uma regulação justa, eficiente e baseada em evidências.

A sexta-feira ainda trouxe um encontro marcante entre a psicodelia brasileira e a academia, com os neurocientistas Dr. Dráulio Barros de Araújo e Dra. Fernanda Palhano-Fontes, além das participações de Daiara Tukano e Dra. Adana Kambeba, refletindo sobre como aproximar ciência e sabedoria ancestral.

No sábado, a mesa “Novos modelos: famílias psicodélicas”, reuniu Glauber Loures de Assis, Adana Kambeba e Marco Algorta. O debate abordou práticas comunitárias, afetivas e intergeracionais de cuidado. Na sequência, a mesa “Integração e preparação: o antes e o depois da experiência” reuniu Iago Lôbo, Tábata Gerk e Dra. Cecília Nizarala, que destacaram a importância dos cuidados prévios e posteriores a rituais, terapias ou cerimônias.

Fechando o dia, a mesa “Regulações do futuro: queremos regular os psicodélicos?” trouxe Augusto Vitale, psicanalista que atuou ao lado de José Mujica e Júlio Calzada no processo que fez do Uruguai o primeiro país do mundo a legalizar a maconha; Jairo Lima; Diogo Busse e Dra. Mariane Ventura em uma conversa sobre políticas públicas que conciliem saberes tradicionais, garantam segurança e evitem retrocessos.

“Foi muito importante esse processo de discussão da regulamentação das chamadas substâncias psicodélicas que, no caso da Ayahuasca, prefiro chamar de biocultura. Isso é importante porque nos ajuda, com base nos dados que eu apresentei, a percebermos a amplitude da globalização da Ayahuasca e a necessidade de traçar, ao menos, certos acordos éticos para que possamos, a partir daí, construirmos todo um processo participativo e coletivo de regulação, se for necessário”, comentou Jairo.

Expande Capão

O Expande Capão tem organização e coordenação da Viramundo Produções, com produção executiva da Trevo Produções, além do apoio da Prefeitura de Palmeiras e patrocínio da aLeda.

A aLeda levou ao Vale do Capão uma ativação que aproximou ainda mais a marca do público. Durante os três dias de evento, representantes distribuíram produtos, apresentaram novidades e interagiram diretamente com visitantes de todas as idades. A ação reforçou o compromisso da marca com iniciativas que promovem informação, cuidado e liberdade.

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